sexta-feira, 12 de março de 2010

Édil Alves
















José Édil de Lima Alves, natural de São Gabriel (RS) - 1943 é doutor em Letras pela UFRJ, professor e coordenador do Curso de Letras EAD da Universidade Luterana do Brasil e membro da Academia Rio-Grandense de Letras e da Academia Uruguaianense de Letras, além de colunista do jornal Momento de Uruguaiana


CENTENÁRIO E SUGESTÕES

Dentre tantos benefícios que trouxe a Semana de Arte Moderna, realizada em São Paulo em 1922, certamente um deles foi chamar a atenção para a música que se produzia em nosso país. Naquela ocasião e no palco do Teatro Municipal, contratado para as apresentações dos artistas e dos teóricos empolgados com o movimento a que davam início, compareceu um jovem que vinha impressionando apreciadores da música erudita mesmo fora das fronteiras do Brasil. Seu nome: Heitor Villa-Lobos.

Não apenas um exímio pianista, mas um talentoso criador, Villa-Lobos dominava não apenas a música erudita, como era um apaixonado pela música popular brasileira em que via potencialidades a espera de serem exploradas nos mais diversos campos.

Afirmado o Movimento Modernista, muito graças ao trabalho ingente de Mário de Andrade, aos poucos penetrando nos círculos acadêmicos, principalmente nos dois maiores centros culturais do país na época, Rio de Janeiro e São Paulo.

Villa-Lobos chamou para si a responsabilidade de divulgar a música erudita entre as mais diversas camadas da população, concomitantemente valorizando a produção de raiz popular, tanto urbana quanto rural. Incentivou o trabalho com o canto coral, indo da escola à fábrica, sem esquecer os clubes e as igrejas.

Ingressando na escola em 1950, no que chamávamos de Elementar, todas as manhãs formávamos fila e entoávamos o Hino Nacional Brasileiro, sob a regência da Professora Olga Picavea Zaccaro, de tão saudosa memória. E no ambiente escolar aprendíamos os mais diversos hinos e marchas, cantando a plenos pulmões (não sem algum exagero, às vezes, que merecia o reparo austero da grande e querida maestrina). Já no segundo semestre de 1951, no Colégio Sant’Ana, para onde fora levado por meu irmão mais velho, passei a integrar o orfeão, sob a regência do Ir. Arlindo Monbach, excelente músico que era também o diretor do Colégio.

Pois naqueles anos 50, assisti no Cine Teatro Carlos Gomes a apresentação do orfeão do Colégio Americano com participação de alunos do IPA, interpretando música sacra, sob a regência do maestro Leo Schneider. Quis o destino que em 2005, em parceria com o querido professor Arnoldo Todd, com que trabalhara no início dos anos 80, eu participasse da produção de um cd em que o Coro de Concerto PROMUSICATA, criado pelo referido professor Todd, interpretava o oratório “São João Batista”, de autoria do maestro Leo Schneider, o mesmo oratório que eu assistira em Uruguaiana, no Carlos Gomes.

Leo Schneider, membro da Igreja Luterana, foi em vida reconhecido como um verdadeiro espírito ecumênico (em época em que não se falava quase nada sobre ecumenismo, a ponto de nós, de escola marista, evitar pisar na calçada do União, de confissão metodista, sendo a recíproca verdadeira...). Schneider viveu em estreito contato com metodistas (lecionou muitos anos no Colégio Americano e trabalhava com os rapazes do IPA), anglicanos e católicos que admiravam suas produções e incluíam-nas em seus cultos religiosos, como convém a bons cristãos, pelo menos.

Deixou inúmeras e apreciáveis composições dentre as que ganharam merecidíssimo destaque os cinco magníficos oratórios, verdadeiras obras primas que merecem ser apreciadas, seja pelas músicas, em si, seja pelas letras e pelas coreografias, verdadeiras obras cênicas que são.

Pois neste 2010 celebramos o centenário de nascimento do grande maestro que, na esteira de Villa-Lobos esmerou-se em produzir e divulgar a arte que fala a todos os povos, pois que se expressa em linguagem verdadeiramente universal: a música.

Uruguaiana bem que deveria somar-se às homenagens à memória do grande Leo Schneider, posto que razões não lhe faltam. Aí temos o Instituto União – da rede em que, por muitos anos, Schneider prestou o brilho de sua arte, somado a seu entusiasmo pelo trabalho com os jovens; certamente na comunidade não faltará quem lembre daqueles espetáculos no Carlos Gomes, e o espírito culto do uruguaianense saberá apreciar, por exemplo, uma apresentação da filha do grande maestro, a reconhecidamente internacional organista Anne Schneider, interpretando algumas obras de seu ilustre pai na Catedral de Sant’Ana, em nossa Terra.

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