domingo, 20 de dezembro de 2009

Tânia Heldt Mello















professora aposentada do curso de extensão-IA-Ufrgs, no projeto Susuki e no Conservatorio do Colegio Americano.


Que Saudades, Maestro Leo!

Transformar em palavras o que o Maestro representou para mim é muito difícil, quase impossível, tal a importância da figura dele como exemplo de lisura, de caráter e de amor pela música, além do grande conhecimento que sempre partilhou com seus alunos.
Quando o conheci, eu era uma menina, com algum talento, cursando o antigo ginásio, e que achava o máximo decorar seqüências de notas e executá-las perfeitamente.
Ele me mostrou que a música era muito mais do que isso e que havia um novo mundo atrás das partituras. Ele me ensinou disciplina, persistência, superação, e, embora eu tenha feito outras escolhas, os ensinamentos dele sempre me acompanharão.
Agradeço enormemente a oportunidade de homenageá-lo com este depoimento.

Tânia Heldt Mello

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Berenice Guedes Müssnich

Sabia ouvir com paciência e carinho


Maestro Léo Schneider, querido amigo e professor!!!

Guardo no meu coração a recordação de suas aulas, apresentações assim como as fugidas na sua sala para conversar.

Na verdade o único professor que , ao meu ver, realmente sabia ouvir com paciencia e carinho.

Fico feliz em participar das homenagens ao centenário desta pessoa humana inesquecível!.

Minha eterna saudade.

Berenice

sábado, 21 de novembro de 2009

Atelene Normann Kämpf

Maestro Leo Schneider me lembra...



Atelene foi professora e pesquisadora em Floricultura na Fac. de Agronomia da UFRGS (aposentada). Autora de livros sobre produção de plantas ornamentais. Atualmente trabalha como consultora em projetos de produção e manutenção de plantas em estufas. Link para a página da UFRGS, onde Atelene coloca artigos e palestras de interesse para o pessoal da área - plantas ornamentais - <http://chasqueweb.ufrgs.br/~atelene.kampf>.





A Igreja Episcopal,

hoje Catedral da Santíssima Trindade.


Várias pessoas da minha família faziam parte do Coro regido pelo Maestro. Era com orgulho que comentavam as apresentações ou as melodias (especialmente as letras, sempre baseadas em textos bíblicos).



Meu tempo de infância.


Sou a caçula de um grupo de cinco irmãos e nossa diferença de idade sempre me fez olhá-los como se todos fossem “adultos”, só eu era a pequena. Meus pais e meus irmãos eram admiradores do Maestro e seus dons musicais, assim que cedo aprendi a respeitá-lo. Lembro de minha mãe trabalhando em casa, sempre cantando hinos. Não raro, ela e meu irmão faziam “duetos” , com partes do Oratório S. João Batista – ela, com a experiência do Coro da Trindade; ele, como aluno do IPA. Era a música do Maestro atingindo vários públicos e unindo gerações.



Nos corredores do Colégio Americano,

hoje Instituto Metodista de Educação.


A sala do Maestro era no mesmo andar da Secretaria e da Sala dos Professores, onde nossos mestres tomavam seu cafezinho nas horas de intervalo. Muitas vezes o víamos no corredor. Nessas ocasiões, ele costumava fazer uma carinhosa brincadeira: cada vez que nós, alunas, cruzávamos seu caminho, levantávamos a palma da mão aberta para receber um breve “tapa” de sua mão também aberta. Nos idos anos de 1960, o Maestro já praticava o gesto que hoje ficou conhecido como high five!



A Escola Dominical na Paróquia Matriz.


Chegou um tempo em que eu, jovem curiosa, queria conhecer outras igrejas, além da Trindade (do meu tempo de infância) e da Wesley, onde freqüentei durante a adolescência e juventude. Fui visitar a Escola Dominical da Igreja Luterana, ainda na antiga igreja da Rua Senhor dos Passos. Fiquei encantada com o que vi, um verdadeiro fenômeno de liderança religiosa. Ele, o Maestro, dirigia a Escola Dominical. A sala estava repleta, quase não cabia mais ninguém. Com seu entusiasmo, prendia a atenção dos ouvintes falando sobre os fatos bíblicos. Penso ter sido ali que nasceu em mim a vontade de participar da Comunidade Luterana, o que tenho feito nos últimos 35 anos, com grande alegria.



Obrigada, Maestro, pelo seu carinho como professor e seu exemplo como cristão!

Sonia Dulce Carvalho da Silva

Tipo inesquecível

Ontem estava ouvindo a Polonaise de Chopin e senti saudade da interpretaçao especial de Maestro Léo Schneider quando a tocava. Seus longos dedos e suas longas mãos tocavam as teclas e tiravam aquele som maravilhoso que nos enlevava.

Cada vez que ele ia tocar para nós, alunas do Colégio Americano,eu pedia a Polonaise, para mim a música das músicas. E ele sempre atendia meu pedido e a música me enlevava e me levava longe e que até hoje tem esse poder e que me traz uma imensa e doída saudade.

O Maestro Schneider faz parte do meu seleto grupo de "tipos inesquecíveis" e a ele presto minha homenagem e minha gratidão pelas horas de encantamento que trouxe à minha vida, Minha homenagem também a toda su família.

Com carinho, Sonia Dulce Carvalho da Silva. (Biblioteconomia UFRGS)

domingo, 4 de outubro de 2009

Dora Suzana Blauth da Rocha

Leo Schneider, o professor de Canto Coral que marcou uma época

Tendo sido aluna de Leo Schneider no Colégio Americano e também no Conservatório de Música da mesma Instituição, tive o privilégio de conhecer
cada um dos seus cinco oratórios: O Calvário (1943), São João Batista (1946), A Purificação do Templo (1947), A Conversão de São Paulo (1948) e Jesus Nazareno (1950) nos quais participei cantando no coral ou como solista.

Fui também sua aluna de piano no Curso Superior de Música, da então Escola de Artes da UFRGS e, de 1973 em diante, após aprovação em Concurso a Docência, sua colega no Instituto de Artes.

Foram anos de rica convivência em diferentes etapas da minha vida...

Conheci o Maestro, como era chamado, quando cursava a primeira série do antigo curso ginasial no Colégio Americano. Era o professor de Canto Coral que, desde a primeira aula, cativou toda a turma, cerca de 40 meninas. Nessas aulas aprendíamos principalmente a cantar, a apreciar música erudita e noções básicas de teoria musical

Música, nos anos 50, era coisa levada a sério pelo MEC - matéria obrigatória em todas as escolas e níveis. Cantar a duas, três ou quatro vozes era absolutamente normal...

Ensinou-nos , primeiramente, que espécie de composição musical era um oratório: falou-nos de “Jesus Nazareno” e passou toda a primeira peça do mesmo, “O nascimento de Jesus”, soprano e contralto, sem juntar as vozes.

Naquele ano de 1953 este oratório era o programa para todas as 8 turmas do ginásio, com apresentação prevista para o fim do ano. Como no Americano éramos só garotas, as vozes masculinas ficaram a cargo dos ginasianos do IPA (escola co-irmã), onde o Maestro também lecionava.

Cada turma tinha um período de aula de Canto por semana e, aos sábados pela manhã, após o recreio, havia um ensaio conjunto de todas as turmas, do Americano e do IPA, no auditório do Colégio, era uma aula imperdível.

Embora fôssemos aproximadamente 400 alunos, não havia problemas de disciplina. Ele, sozinho, ensaiava todos os alunos: as vozes femininas no lado direito da platéia e as masculinas no lado esquerdo. De vez em quando olhares ou sorrisos discretos eram trocados entre alguns cantores....Quando surgia algum ruído de conversa ou risadinhas ele, no palco, em frente ao piano de cauda, simplesmente parava de tocar ou de reger, olhava na direção da fonte do ruído, e abaixava a cabeça. Acontecia, então, um silêncio total que durava uns 30 segundos ou mais... Calmamente e sem qualquer comentário seguia com o ensaio exatamente no ponto onde havia interrompido.

Nos anos seguintes, foram ensaiados: “A Conversão de São Paulo”, “O Calvário” e “São João Batista”, com apresentações no Americano, no IPA, no Theatro São Pedro, em Escolas e Igrejas da Capital e do Interior. Nas apresentações, o Maestro tocava piano e regia, mas houve apresentações acompanhadas de orquestra, onde também era o regente.

Nas aulas por turma havia , ainda, um espaço para apreciação musical. Os 10 minutos finais eram reservados para “conhecermos” um compositor de música erudita, a época em que viveu e sua importância na História da Música.

Sentava-se então ao piano e executava brilhantemente uma peça do referido compositor. Na aula seguinte era outro compositor... mas tocava também os primeiros compassos da peça mostrada na aula anterior, para que a lembrássemos... E assim apresentou-nos a Bach, Mozart, Bethoven, Liszt, Chopin, Brahms, Carlos Gomes e muitos outros. Quando “conhecíamos” cerca de 10 peças, ele tocava partes das mesmas para que identificássemos a música e o autor... Assim fomos tomando gosto pela música dos grandes mestres.

Além dos oratórios, cantávamos todos os hinos pátrios de cor e em posição de sentido, bem como músicas para eventos especiais. Um destes eventos ficou classificado em minha memória como fantástico: “Uma Recepção na Corte de Louis XIV”, que aconteceu no auditório do Colégio Americano.

O Maestro, que planejou e coordenou o espetáculo, também interpretou o papel de Lully, Diretor Musical da Corte.

O palco era o salão principal do Palácio de Versailles, todo adornado com peças de mobiliário antigas (provavelmente emprestadas das salas de visita do internato), candelabros e flores. No lado esquerdo o piano de cauda e lugares para os músicos convidados. A direita lugar para o coral feminino, do qual eu fazia parte e ao centro um espaço maior para as danças...

Lully estava vestido a caráter, com uma peruca branca crespa e segurava um bordão, com que golpeava o chão anunciando cada convidado. O bordão também
era usado para dar início às danças, bem como para manter o andamento das
mesmas...

Instrumentistas, cantores solistas, bailarinos, coral e grupos de dança cuidadosamente ensaiados pelas professoras de educação física, apresentavam graciosos minuetos e gavotas... Todos estavam vestidos a caráter.

Este espetáculo que envolveu direção da escola, vários professores, clube de francês, mães de alunas (que ajeitavam ou emprestavam alguma peça de vestuário ou acessório) e músicos convidados, nos deu uma idéia do luxo, esplendor e bom gosto vivido na corte de Louis XIV.

Nesta época o Maestro era provavelmente o professor mais popular e querido do colégio. Era o mestre sempre disposto a ouvir qualquer aluna: na sala de aula, nos corredores (onde era cercado por muitas) ou no pátio... Ele sempre tinha uma palavra amiga, um conselho sábio ou simplesmente um sorriso para cada aluna.

Sou grata a Deus pela vida do muito querido Maestro Leo Schneider, que com sua música, seu carinho e dedicação como professor, teve significativa influência na minha decisão profissional pela música.


P.A. 03/10/2009.


Dora Suzana Blauth da Rocha

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Fé Emma Piccoli

Um olhar de reconhecimento




Em 1946, fui estudar no Colégio Americano e no respectivo Conservatório de Música, quando me tornei aluna do maestro Léo. Era também componente do Canto Orfeônico do ginásio, cantando o Oratório São João Batista e de São Paulo.

Com o maestro, aprendi a ter o gosto pela música clássica e pelo canto, os quais cultivo até o hoje. Além de professor, o maestro tinha o talento de despertar a amizade e a admiração de seus alunos.

De todos os encontros de aprendizado que mantive com o mestre a amigo, de 1946 até 1953, o que mais me marcou nessa convivência foi a sua capacidade de inspirar a todos, inclusive com seu alegre sorriso, para que nos mantivéssemos fiéis e devotados estudantes da música.

As longas horas de estudo eram premiadas pelo olhar de reconhecimento pelos acordes bem-executados. As falhas, eram transformadas em um novo desafio a ser vencido.

Por tudo isso, a grande lição que ficou foi a de um homem que tinha na música sua forma de celebrar a vida.

Um saudoso abraço,

Fé Emma.
Escritora de livros infantis de culinária como Menino Maluquinho na Cozinha c/ ilustrações de Ziraldo.
-Foi a responsavel pelo Setor de Pesquisa e Arquivo de Vozes da Radio Gaúcha por 15 anos.



















Audição de piano no Colégio Americano em 1949.



























Audição de canto com a Profª. Maria Helena em 1951.




















Fé Emma Piccoli e o maestro no aniversário de 15 anos de Fé, 01-08-1950, na Protásio Alves nº 674.

Flávio Oliveira





Compositor, premiado com 2 Prêmios Açorianos, professor do Colégio João XXIII e Instituto de Artes da UFRGS por muito tempo, diretor da Discoteca Pública Natho Henn, produtor de muitos CD´s, idelalizador do Encompor, diretor de programação por 25 anos da Rádio da UFRGS, formado em Letras e Cultura Grega pela UFRGS








O Maestro Léo Schneider que conheci

Flávio Oliveira

A valorização e o respeito ao ser humano, na fase de sua formação, quando criança, pré-adolescente, adolescente e jovem a caminho da adultez, não eram a prática das escolas que freqüentei durante a idade escolar. Por discurso de princípios declarados e “no papel”, como se diz, as escolas apontavam estes valores. Mas na realidade do quotidiano, na prática do dia a dia, somente poucos professores vivenciavam-nos. Alguns poucos respeitavam a gente e nos valorizavam em nosso aprendizado, nossas descobertas, nossas criações, por menores e mais modestas que fossem. Sabiam que, em o fazendo, semeavam estes valores.

O enfoque deste tema bastante polêmico em nossos dias – qual seja o da valorização e o respeito à pessoa no sistema de ensino brasileiro – a prima vista talvez pareça estranho em um texto que se destine a contar um pouco sobre meu convívio com LÉO SCHNEIDER regente, professor, pianista, organista e compositor. Apesar disso, em um primeiro momento, o que me move a registrar aspectos daquele convívio com esta figura tão importante da música rio-grandense-do-sul é justamente a memória da manifestação destes dois valores que senti, ainda que sem saber nomeá-los então, e que certamente foi o que mais me marcou no primeiro dia de aula, ele sendo o professor de música, quando eu tinha 12 anos. Foi em 1956, no Instituto Porto Alegre – o IPA, como era conhecido – instituição onde, por circunstâncias especiais, fui cursar a primeira série ginasial, com uma bolsa de estudos do Rotary Club de Porto Alegre que um tio meu conseguira.

Léo Schneider era o nosso professor de música e nosso regente coral. Se o convívio que tivemos enquanto classe e/ou grande grupo, no coro, foi inesquecível, maravilhoso, foram fundamentais para minha formação as experiências de ensino-aprendizagem e o fazer musical sob sua orientação. Fundamentais porque com ele ganhei em tenra idade um Norte possante quanto aos valores acima apontados e grande e definitivo estímulo para perseguir meus sonhos musicais e prosseguir meus estudos musicais, tanto na escola quanto fora dela.

Operou-se uma verdadeira revolução nos meus sentimentos de criança e de aluno, a partir dos muitos atributos de Léo Schneider, que se manifestavam no quotidiano: sua força, sua alegria, o olhar nos olhos quando se dirigia a um de nós, a pergunta direta, a resposta clara. Ao mesmo tempo, esta mesma figura também era uma “sumidade” de conhecimentos musicais, históricos, artísticos; ele dominava vários idiomas como o latim, o alemão, o inglês, o francês; e tocava o harmônio, o órgão e o piano com igual desenvoltura ... e cantava – afinadíssimo ! - com tanta expressão, que passava pra gente esta idéia : cantar com expressão... Ele nos contagiava e nós também queríamos cantar assim... bonito e afinado.

Pessoalmente, eu que via maestros somente em palcos, pois meus pais freqüentemente me levavam a concertos da OSPA e outros que houvesse, fosse de visitantes, de música de câmara local, etc., tinha, pela primeira vez, um maestro que estava bem perto, bem próximo, ali, regendo o coro no qual eu cantava. Na minha percepção de menino de 12 anos, que estudava música e amava a música, pela primeira vez eu via de perto e tinha como professor um maestro de verdade, um compositor, um pianista – e, mais: um artista..

Meu sentimento, de criança, era que Léo Schneider me acolhera sem me conhecer pessoalmente. Eu era um aluno, como tantos, da primeira série ginasial. Não obstante, o tratamento que ele me dava era absolutamente distinto. Mas... curiosamente, em seguida, fui percebendo que ele tratava a cada um dos colegas da mesma forma: para ele cada um era distinto. Para mim isto era novo; eu ainda não tinha instrumentos de análise para entender que o que estava ocorrendo é que ele distinguia, atendia e respeitava a individualidade de cada um de nós. Até então, na vida escolar, jamais eu sentira tamanha atenção à minha pessoa. Léo Schneider fazia isto com naturalidade; ele era assim; isto de respeitar a individualidade fazia parte dos valores que cultivava na vida dele. Pelo menos, refletindo mais tarde sobre este aspecto, entendi que a gente sentia que era natural porque a aparência e a essência se juntavam: este valor fazia parte dele – ele era assim então, é a concluir. E o leitor certamente já deve ter pensado em que o que nos fica dos professores, dos mestres, dos que nos educaram – para além dos conteúdos programáticos – são os valores que eles cultivavam, a força de personalidade que se manifestava neste cultivo e os atributos de caráter em harmonia com o todo.

Rememorando este momento de já há 53 anos, enxergo que a aguda sensibilidade para perceber pessoas guiava nosso querido maestro Léo no tratamento diferenciado dirigido a cada um de nós. Mas havia nuances: posso afirmar que, no geral, a base de respeito, de valorização era a mesma com todos nós; mas algo fazia com que ele mudasse minimamente o tratamento de um para outro aluno... isso que mudava era justamente o que fosse mais adequado para cada um dos nossos jeitos de ser – em outras palavras, nuances de caracteres e temperamento diferenciadas sugeriam-lhe nuances de tratamento diferenciado. Eis, sem mistério, o que ocorria.

Cá entre nós, caro leitor, um convívio assim é um estímulo para a vida. Assim, eu aguardava sempre com grande ansiedade os encontros de música, onde cantávamos em coro, ensaiando músicas de verdade com notáveis resultados, emocionantes... e a curto prazo: nós realmente fazíamos música sob a regência de Léo Schneider ! E aquela coisa que soava tão “grandiosa” (para mim, criança) era feita com muita simplicidade. Acredito que se deva atribuir ao profundo conhecimento do seu metier a extrema simplicidade na condução dos trabalhos. Ele tirava leite de pedra, como se diz. Valorização e respeito era a lição que levávamos. Mais tarde, como músico, enxerguei que este era um fundamento essencial para o fazer musical que, invariavelmente, implica trabalho de conjunto.

Dentro desta idéia de o maestro Léo enxergar diferenças individuais, vale contar também que, quando percebeu que eu gostava muito de música, que estudava piano fora da escola com professora particular, que eu era capaz de ler música e tinha boa afinação, convidou-me para ir fazer parte do Coral Evangélico que dirigia, cujos ensaios via de regra eram realizados no salão da Igreja Metodista da Rua Duque de Caxias, aquela que fica bem pertinho da Praça do Portão.

Quanto à minha professora particular de música, vale o parêntese que faço a seguir, tanto para nomeá-la quanto para descrever certo cenário de concertos sinfônicos. Seu nome era Zuleika de Araújo Vianna, ex-aluna do Instituto de Belas Artes, ex-aluna do professor Tasso Corrêa, pertencente à família do compositor rio-grandense-do-sul que deu nome ao Auditório que, diga-se de passagem, naquela época ficava junto da Praça da Matriz, ao lado do Solar dos Câmara. Tinha uma linda platéia, com bancos de praça, que descia em escada em direção à concha acústica. Cada degrau era ornamentado com uma fileira de ciprestes baixos. A Concha Acústica ficava perto da amurada que dava vista para o Arquivo Público. Pela altura do terreno, também se podia enxergar o Guaíba, pelo lado esquerdo do Teatro São Pedro. Na parte superior, da Rua Duque de Caxias e na parte lateral descendo pela calçada que vai até o Teatro São Pedro, a platéia era ladeada por um “pergolado” greco-romano, coberto por trepadeiras entrelaçadas, cheirosas, a saber: glicínias, canela e bem-casados. Situava-se onde hoje se encontra o prédio da Assembléia Legislativa do estado. Este cenário fez parte de nossas vidas, pois ali eram realizados concertos sinfônicos, já desde antes da fundação da OSPA e ali atuavam as orquestras existentes, como as da Rádio Farroupilha, a do Club Haydn, além de, a partir de 1950, a OSPA.

Voltando ao Coral Evangélico, cantando nele conheci composições importantes de Léo Schneider, como o Oratório São João e o Oratório Jesus Nazareno. Neste último, com sua filha Anne Schneider (ela era aluna do Colégio Americano, instituição, então, co-irmã do IPA), fizemos a parte de solo (sem coro) do menino Jesus, quando José e Maria o procuram (o texto seguia o Evangelho de Mateus); a soprano, o papel de Maria, cantava a pergunta: “Filho, porque procedeste assim conosco? Teu pai e eu te procurávamos aflitos...” com nosso canto, respondíamos: Por que me procuráveis? Não sabíeis que eu devia estar na casa de meu pai?”.

Na composição de Léo Schneider (no meu modesto entender ele era um orquestrador de mão cheia), quanto à orquestração – que me lembre – este momento era precedido por uma parte instrumental em que se escutava um lindo solo de oboé acompanhado de cordas... melodia e acompanhamento que certamente sou capaz de reproduzir ao piano, mesmo nos dias de hoje, de memória. Quanto à parte que Anne e eu cantamos, também posso reproduzí-la ainda hoje, bem como o canto de Maria que nos precedia... Ah, o solo de oboé: se não me engano quem tocava o solo era Papalardo, de grata memória.

O “Oratório Jesus Nazareno”, com texto do Evangelho de Matheus, foi apresentado no Teatro São Pedro e no Cine Goyoen de Montenegro, em récitas públicas (das quais me lembro nitidamente, embora deva ter havido outras em outros lugares), com a orquestra do Club Haydn, sob a regência de Léo Schneider. A afluência de público era bastante grande. Esta memória, como o leitor pode imaginar, é indelével.

Se no ano seguinte, 1957, me desliguei do IPA, troquei de escola indo para o Colégio Estadual Júlio de Castilhos, o “Julinho”, meu convívio musical com o maestro Léo Schneider continuou. Minha voz mudara, eu não era mais sopranino e entrei no naipe dos tenores. Completara 13 anos.

No mais, com muita freqüência, ia nos ensaios da Orquestra do Club Haydn, dirigida por Léo Schneider, na SOGIPA e alhures. Nos “Seminários Sul-Riograndenses de Música”, promovidos pela SEC-RS, através de sua Divisão de Cultura (à época da profa. Maria Moritz) surpreendeu-me sempre encontrar humildemente freqüentando as atividades o querido Maestro Léo Schneider.

Por causa da Orquestra do Club Haydn e destes Seminários de verão, conheci um grande flautista de nome Luiz Taylor Siedler, que estreou comigo uma das minhas primeiras composições para flauta e piano, em concerto público no Auditório Tasso Corrêa do Instituto de Artes. Luiz Siedler, além de tocar no naipe das madeiras da orquestra do Club Haydn, também fazia música de câmara com outros músicos e era uma espécie de “coringa” freqüentemente requisitado pela vida musical de POA.Com ele aprendi a fazer música de câmara. Indo assiduamente aos ensaios dos grupos em que ele tocava, pude ir aprendendo instrumentação e orquestração, na extensão em que ia escrevendo pequenos trios e quintetos que generosamente as madeiras do Club Haydn, nos ensaios com Siedler, tocavam para eu escutar “como soava” . E assim, eu ia balizando, ajustando, realizando a música que eu imaginava e criava. Foi um aprendizado precioso, este. Finalmente, quando comecei a compor música de cena para o teatro, realizei as gravações com os músicos que conheci através de Léo Schneider e Luiz Taylor Siedler.

Este pequeno e modesto relato de experiências entre os 12 e os 17 anos enfoca o período em que se deu mais de perto, mais intensamente meu convívio com Léo Schneider. Posteriormente, aos poucos segui meu caminho , compondo, tocando, gravando...

A força de personalidade de Léo Schneider, a excelente qualidade artística de sua composição musical, a clareza de sua regência e sua desenvoltura ao órgão e ao piano, foram forças estimuladoras de minha formação. Sua figura de maestro e compositor fortaleceram significativamente o meu fazer musical e também estimularam o desenvolvimento do meu sonho de criança quanto a poder tocar, compor e escrever o que internamente eu escutava e imaginava.

Léo Schneider pertence ao pequeno grupo de grandes artistas que realmente me estimularam e nutriram meus sonhos. Certamente ele abriu portas para que eu compreendesse os que viriam logo depois, já aos 16 anos, tais como o maestro Roberto Schnorrenberg, o músico, historiador e filósofo Yulo Brandão e o compositor, professor Armando Albuquerque. Estas quatro personagens concretamente reconheceram, valorizaram e estimularam meu trabalho. Com eles estudei e aprendi aspectos relativos à composição e à estética musicais, bem como a questões relativas à interpretação, ao fazer musical, à arte da música.

Finalizo esta minha modesta contribuição ao medium virtual (“blog”) que disponibiliza dados sobre vida e obra do Maestro Léo Schneider, com uma sugestão. A Tese de Mestrado do pianista, compositor, prof. Paulo Dorfmann – quem primeiro se ocupou com a obra do compositor – está a abrir caminhos para outros trabalhos específicos. Minha sugestão vai pelo viés das composições de Léo Schneider. Especialmente as partituras que o compositor Léo Schneider deixou estão a ensejar trabalhos na área específica de musicologia histórica. Minha sugestão é para que os especialistas desta área voltem suas atenções à obra do maestro, no sentido de dar conta da recuperação de partituras, fixação de texto, editoração e publicação, como também, posterior gravação delas. Deixo aqui registrada e manifesta, a quem interessar e queira dedicar-se a este trabalho, minha vontade e disponibilidade de colaboração/cooperação no que diga respeito a dar conta da parte de análise, quanto aos diversos aspectos relativos a procedimentos de composição do Maestro Léo, orquestração, forma, etcétera. Acredito em que trabalhos nesta área específica de Musicologia Histórica terão dupla função: disponibilizarão para execução e escuta a obra de Léo Schneider, como também trarão uma contribuição bastante importante para a repercussão crítica de sua obra. .

Flávio Oliveira. Estância Velha, 28 de agosto de 2009.

Contato: floliva@terra.com.br e/ou telefones 3561-2974 e 9209-9696 (se for ligação fora da área da Grande Porto Alegre, discar operadora e código de área 51).

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Recitais de órgão

Rio de Janeiro
15 de Agosto de 2009
18h
Recital de órgão com Anne Schneider
Caixinha de Música
































Belo Horizonte
8 de Junho de 2009
20h
Recital de órgão com Handel Cecílio

Lamento
Prelúdio


















































Em Belo Horizonte, Minas Gerais

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Alexandre Schneider Rolim
















Alexandre Schneider Rolim
é formado em Engenharia e
trabalha com computação
em Ingleses-SC.










Léo Schneider um nome forte

Minha infância foi meio estranha, era introvertido no meu mundo, analisando as coisas, abstraindo pensamentos, formando meu caráter. Em toda minha vida tive contato com pessoas importantes que contribuíram para que eu fosse como sou.
Dentre essas pessoas poderia citar várias que me influenciam até hoje, meus pais e meus dois irmão mais velhos, pessoas que eu continuo a me espelhar e consultar quando preciso.
Das pessoas que já não estão mais entre nós tenho que me lembrar sempre de meus avôs maternos, porque com os outros tive pouco contato. Minha vó, depois de minha mãe foi uma das pessoas mais maravilhosas que já tive o prazer de conhecer. De Minha vó, sempre percebi o respeito e amor eterno por esta figura marcante que era meu avô.
Apesar de morar em outra cidade muitas vezes tive oportunidade de conviver com meu avô. O maestro (como todos lhe chamavam) era um homem notável, honesto, com sendo de humor apurado, dedicado a família, a música e aos seus princípios, Tinha como missão passar sua mensagem através de suas composições, de seus oratórios. Lembro dele como um homem sério, sempre bem arrumado, de terno e gravata que adorava sair com os netos para ver os aviões no aeroporto Salgado Filho, ou ir para Novo Hamburgo comer sopa de capeletti aos domingos.
Depois de seu falecimento é que fui compreender a grandiosidade de sua obra e sua importância para a música erudita brasileira. Por isso, em sua homenagem coloquei o nome do meu filho Léo Guilherme, um nome forte.


















Na foto eu, Alexandre Schneider Rolim e meu filho Léo Guilherme Rolim.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Maria Helena Itaqui Lopes


















Maria Helena Itaqui Lopes
médica gastroenterologista e
professora da PUC



Querido Maestro Léo Schneider!

Guardo preciosas lembranças do convívio com o meu estimado professor de música.

Ingressei na Escola de Artes, já na adolescência, após ter iniciado meus estudos de piano aos 7 anos de idade. Fiz as provas de aptidão para o primeiro ano Fundamental e foi-me dito que poderia escolher um Professor, mas a recomendação do primeiro nome era do Maestro Léo Schneider e mesmo sem conhecê-lo apresentei-me como sua aluna. Fiz o primeiro e segundo ano e por recomendação dele preparei-me para a seleção do quinto ano. Cursei esse e o último ano do Fundamental para então fazer o vestibular unificado da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, onde obtive o primeiro lugar para a Escola de Artes.

O “problema” começou aí, pois estava ambivalente na escolha da profissão e fiz no mesmo ano o vestibular de Medicina na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, onde também fui aprovada. Muito contrariado ficou, a princípio, o Maestro, achando que eu não iria dar conta dos estudos a contento, com dois cursos de peso pela frente. Acabei fazendo os dois e naturalmente precisei de muita ajuda, especialmente na flexibilização dos horários das aulas. O Maestro foi o primeiro a se dispor nessa ajuda, como era da sua personalidade, sempre disposto e solidário!


Tínhamos aula de piano ou às 6h45min até às 7h45min, ou do meio-dia às 13h45min, mesmo que para isso significasse almoçar mais cedo em sua casa. Dona Mariazinha, sua querida esposa, compreendendo a minha dificuldade me enviava deliciosos e variados bolinhos que eu saboreava, enquanto o Maestro tocava alguma coisa que eu escolhia: um estudo Transcendental de Liszt ou um estudo de Chopin, entre tantas solicitações. E tudo de cor!

Essa é apenas uma das tantas boas lembranças que tenho do Maestro que tanto me auxiliou e representou na minha formação dos valores que hoje possuo.

Maria Helena Itaqui Lopes
médica gastroenterologista e professora da PUC

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Marcos Rolim


Marcos Rolim
neto do Maestro Léo Schneider,
mestre em Sociologia pela
Universidade Fedral do Rio Grande do Sul (UFRGS)
onde faz doutoramento (03/2009),
especialista em Segurança Pública
pela Oxford University, Ingaterra,
professor da cátedra de Direitos Humanos
no Centro Universitário Metodista (IPA),
consultor para políticas públicas em Segurança e Direitos Humanos,
autor de A síndrome da Rainha Vermelha:
policiamento e segurança pública no século XXI (Zahar, 2006), A imitação da política (Tchê), Teses para uma esquerda humanista (Sulina) e Desarmamento, evidências cientificas (DaCasal, Palmarinca)


Acredito que meu avô gostaria de ser identificado, da maneira mais simples possível, como um cristão. Alguém que encontrou "na palavra de Deus" o sentido da sua existência. Para ele, estar no mundo, só teria sentido se fosse para "servir ao Senhor". Por isso, entregou o melhor dos seus esforços aos demais - na missão de amar ao próximo verdadeiramente e interpretou seu extraordinário talento musical como uma "dádiva divina" (pelo que sempre se negou a ganhar qualquer dinheiro com a música).


Dito assim, entretanto, se poderia, desavisadamente, vislumbrar a figura do "crente" tornada tão popular no Brasil de hoje. Refiro-me àqueles membros de igrejas evangélicas que se deslocam com uma Bíblia debaixo do braço, prontos a "revelar a verdade aos pecadores" e a distribuir toda sorte de interdições revestidas de ameaças em torno do "Juízo Final". Meu avô nem de longe poderia ser confundido com alguém do tipo.


Primeiro, porque nunca foi um "fundamentalista". Sua leitura bíblica sempre foi marcada por um sincero esforço de interpretar cada passagem e pensar sobre seus sentidos em uma perspectiva histórica.


Segundo, porque meu avô portava uma disposição infinita de compreender as pessoas, de aceitá-las da forma como eram, respeitando as diferenças - inclusive em temas que> envolviam religião.


Nunca pretendeu "doutrinar" quem quer que fosse e imaginava que o exemplo de sua conduta poderia surtir mais efeito. No fundo, agia - aos moldes kantianos - por imposição do dever e se sentia realizado por isso. Quando fazia seus sermões na Igreja Luterana, era um orador brilhante que ensinava e fazia com que todos refletissem. Na vida privada, era só cuidado e carinho com minha vó, com minha mãe e minha tia, e com seus netos e netas.


Com ele, comecei a me alfabetizar, dedilhando as primeiras letras em sua> máquina de escrever. Hoje sei que meu senso moral começou ali, nas palavras sempre sábias e generosas que ele nos oferecia.


Meu avô foi um sujeito raro. Não apenas porque era especialmente culto; não apenas porque foi um organista e um compositor como poucos. Meu avô foi raro, porque foi a pessoa mais bondosa que eu já conheci. Por isso ele nos faz tanta falta.

sábado, 18 de julho de 2009

Yssel Português Soares

O Maestro

Eu Yssel Soares, lembro que o maestro Léo Schneider foi o único artista que exerceu vários papéis: pianista, compositor de oratórios sacros, professor, regente de orquestra, tradutor de letras de músicas religiosas do alemão-inglês para o português.
Como aluno; não me esqueço do respeito e do prazer que as aulas de música me proporcionaram.

Yssel Português Soares.

ex-aluno ipaense e comerciante

Rosa Maria Schneider

















Rosa Maria Schneider é Mestre em Planejamento, professora do Departamento de Educação da Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC)


Léo, o meu pai professor

Além de todas as qualidades já faladas por todos que conviveram com Léo Schneider, uma é a mais saliente: a competência de ser professor. Ele educava pelo exemplo da solidariedade, amor, tolerância e diálogo com todos que estavam em contato no dia-a-dia. A habilidade de saber ensinar é o que posso enfatizar. Através de aulas atraentes sobre música erudita, história da música e canto coral, os alunos ficavam fascinados querendo saber mais e participar das apresentações dos oratórios de sua autoria. Com o ensino de técnica vocal o Novo Testamento era divulgado, pois, esta era a letra dos oratórios, foi um pastor leigo que pregava o evangelho aos seus alunos.

Regendo orquestra e o coral dos alunos dos colégios IPA e Americano o inusitado era disciplina que conseguia impor com amor, dominando mais de trezentos adolescentes. Esta didática seria muito útil aos professores de hoje que não conseguem dominar turmas de cinqüenta alunos! Penso que esta parte da vida de meu pai, a sua competência didática seria interessante aprofundar mais. A prática docente do maestro (como era chamado) lembra as palavras de Paulo Freire e atualmente de Paulo Ghiraldelli, quando este ultimo afirma que só existe aula quando o professor seduz o aluno. E Léo Schneider soube seduzir os seus alunos e influenciá-los para o caminho dos mandamentos do Senhor.

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Rosa Maria Schneider (filha)

segunda-feira, 13 de julho de 2009

José da Silva Moreira













Dr. José da Silva Moreira
é Médico Pneumologista
na Irmandade Santa Casa,
professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
e da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA)
esposo de Anne Schneider



Vô Léo...

Um grande músico, atestado pelos seus pares; um grande professor, venerado pelos seus numerosos alunos; uma cultura invejável; mas, sobretudo, uma grande figura humana.

Esposo amoroso da Dona Mariazinha, pai exemplar da Rose e da Anne, e avô maravilhoso – do Marcos, do Glauco, do Alexandre, do Vinícius, da Ana Luiza e da Fernandinha.

Coisa adorável era vê-lo preparar as mamadeiras para as netinhas, todas as manhãs, e fazê-las dormir à noitinha, sentado entre as camas das duas – com mãos dadas a cada uma delas (e tinha de ser à mesma distância de ambas – senão haveria muita reclamação por parte “da mais pejudicada” com o “Vô Léo”.

Como ele comemorava o Natal! Como gostava daquele período! Ele praticamente “formou” a Ana Luiza em cantos de Natal, ensinando-as “em alemão”... Tannebaum, ...
Muito o admirei, como me ensinou a admirar a “Quinta” e a “Nona”. Acabei, por fim, a testemunhar sua enorme coragem ao final da doença – de como a enfrentou, lutando contra ela, sem queixas.


Um grande homem, em todos os sentidos...

domingo, 12 de julho de 2009

Atelaine Meyer Normann Ew

O Maestro

Desde que eu era bem pequena, minha família já freqüentava a Igreja Anglicana, a Catedral da Santíssima Trindade, hoje prédio tombado, na Rua da Praia. Uma das coisas que mais me impressionava nos cultos dominicais matutinos era o Coro da Igreja. No início do culto os coralistas, vindo de uma salinha, à direita do altar, avançavam em processional, imponentes, já cantando um hino ao som do órgão e do carrilhão. A música inundava aquela igreja. Minha mãe e minhas tias cantavam naquele coro. Eu precisei chegar aos doze anos de idade para, finalmente, poder fazer parte dele. E foi assim que pude aproximar-me daquela magnífica figura, até agora “escondida” lá no alto, onde ficavam o coral, o órgão e... o Maestro Leo Schneider. Foi uma época de muito encantamento. Sentia-me deslumbrada, ensaiando os hinos do Hinário da Igreja. Um dia, na hora do ensaio do coro, o Maestro entregou-nos partituras novas, comunicando que faríamos parte de um grande coral. E foi assim que participamos da apresentação do Magnificat, oratório de Bach. Todos, cantando em latim, acompanhados por uma grande orquestra. Na regência, o Maestro. Uma das características do Maestro era a sua calma e o olhar de confiança que depositava em seus cantores. E nós nos sentíamos seguros sob a sua condução.

Mais tarde, então como aluna do ginasial no Colégio Americano, tive a alegria de continuar cantando sob a batuta do Maestro, que era nosso professor de Música. A salinha dele, no corredor, era ponto de encontro das meninas que para lá corriam tão logo batesse para o recreio. Todas nós saíamos dali felizes com o seu autógrafo nas costas das mãos. Ele jamais demonstrou impaciência, ou mesmo aborrecer-se com aquela cotidiana “invasão” de alegria e tagarelice. No Americano, ensaiávamos os oratórios: Jesus Nazareno, Paulo de Tarso e João Batista. Todos eles de autoria do nosso Maestro. Impressionante como decorávamos letra e música! Até hoje, passadas muitas décadas, lembro-me de todas elas. Durante os ensaios, se a turma começasse a falar um pouco além do conveniente, o Maestro parava de tocar e ficava olhando para o teclado. Bastava isso. O silêncio era imediato. Ninguém agüentava ver o Maestro ficar triste. Muitos anos mais tarde, fazendo parte do coral da Igreja Metodista Wesley, com alegria e emoção voltamos a ensaiar o oratório Jesus Nazareno, apresentado sob a regência do Maestro Leo Schneider. Este oratório foi gravado em fitas cassete. Era um avanço tecnológico para a época.
Falar sobre o Maestro é fácil. O difícil é parar de contar histórias sobre esse cristão exemplar e músico admirável, tão amado por todos aqueles que o conheceram e jamais o esquecem.
Atelaine Meyer Normann Ew

sábado, 27 de junho de 2009

Eventos, Apresentações, Encontros, Programas

Porto Alegre








28 de junho (domingo) às 18:00h
IGREJA DA RECONCILIAÇÃO
Senhor dos Passos 202
Entrada franca

I ENCONTRO DE CORAIS LÉO SCHNEIDER

CORO DE CÂMARA ARS VOCALIS
CORO PORTO ALEGRE
GRUPO CANTABILE
MADRIGAL PRESTO

Coordenação Artística
DELMAR DICKEL
e
LOUIS MARCELO ILLENSEER








Rádio da UFRGS,
Audição do Oratório de São João
de Leo Schneider,
dia 25 de Junho de 2009
21h


São Paulo
































MADRIGAL COROS ANGÉLICOS
1962 – 15 Outubro – 2009
47 anos Louvando a Deus
Regente Hildalea Gaidzakian
Apresenta:
Oratório São João Batista
de Léo Schneider
Datas e Locais:

dia 31 de Maio de 2009 – Domingo – às 18h30
Igreja Presbiteriana Independente de Vila Romana
Rua Marco Aurélio, 772 – fone: 3864-7269
05048-000 São Paulo - SP

dia 10 de Junho de 2009 – 4ª Feira – às 20h00
Igreja Presbiteriana Independente de São Paulo
Rua Nestor Pestana, 152 – fone: 3255-6111
01303-010 São Paulo - SP

dia 20 de Junho de 2009 – Sábado – às 20h00
Igreja Batista de Vila Pompéia
Av. Pompéia, 867 – fone: 3672-6492
05023-000 São Paulo - SP

Entrada Franca

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Cosete Ramos

MAESTRO LEO SCHNEIDER,
UM PROFESSOR INSPIRADOR











Cosete Ramos Gebrim
Palestrante e Consultora
Gaúcha do Alegrete, RS
Trabalhou 25 anos no Ministério da Educação
Professora da Escola Normal de Brasília
e da Universidade de Brasília
Doutora em Educação pela Florida State University – EUA


Conheci Leo Schneider nos anos dourados do Ginásio do Colégio Americano de Porto Alegre, por volta de 1957. Ele me introduziu no mundo encantado da música verdadeira e eu passei a ter o privilégio de experimentar uma vida muito mais bela e bem mais rica!

Fecho os olhos. A imagem que vem à minha mente é cristalina!

Encantador

No começo, eu gostava de acreditar que a música saia das mãos longas daquele homem alto e sério. Com o tempo fui verificando que o Professor era gentil e nos oferecia de presente um sorriso encantador. Na verdade, ele dominava a arte de chegar, lidar e conquistar as pessoas. Como fez comigo!

Eletrizante

Sua presença se impunha, inspirando ao mesmo tempo atenção e respeito. Sua fala, seus gestos, seus olhares tornavam-no um mestre eletrizante, capaz de conduzir com arte os seus alunos, tanto nas aulas como nos concertos de seus oratórios. Quando o Maestro surgia no palco, o silêncio se fazia imediato e absoluto. Bastava um comando seu para que a canção fluísse suave ou majestosa!


Profundo

Seus conhecimentos de música eram amplos e diversificados. Quando se assentava ao piano para tocar para nós músicas clássicas, de um vasto acervo de compositores famosos, de fama internacional, ele nos fazia viajar pelo espaço e pelo tempo, conhecendo um novo mundo sem fronteiras! Que sensação maravilhosa fazer parte de um palco tão estimulante!


Ousado

Sem medo de ser diferente, apresentava uma proposta na qual ele acreditava, mantendo ao mesmo tempo viva a capacidade de dialogar, de concordar e discordar, não se deixando dominar por aquilo que estava posto à época!
Criativo. Penso que ele estava sempre desafiando sua inteligência, na busca de novas idéias, imagens e maneiras de fazer, mantendo o compromisso pessoal com a reinvenção e a mudança.


Abro os olhos. A imagem do Maestro Léo Schneider continua comigo!
Sei por quê! Este Professor inspirador permanece no meu coração!

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Arno Blass

200 SOLISTAS EM URUGUAIANA
Relembrando Leo Schneider







Arno Blass
Engenheiro Mecânico
Professor Titular (aposentado) da UFSC)
Membro da Academia Nacional de Engenharia




Logo depois da Revolução de 30, Getúlio Vargas, guindado à presidência do Governo Provisório, indicou Francisco Campos para implantar o Ministério da Educação e da Saúde Pública, setores que até então eram geridos pelo Ministério da Justiça. Campos designou Heitor Villa Lobos para ocupar a Secretaria de Educação Musical e Artística do recém criado ministério. E o compositor logo viria a dar sua contribuição pessoal à reforma do ensino que o ministro introduziria em 1931, com a inclusão da matéria Canto Orfeônico nos currículos dos cursos primário e ginasial (que subsistiria por mais de três décadas, até ser lamentavelmente eliminada na onda das reformas do ensino introduzidas por um novo governo de exceção).

O que se viu, então? Na maioria dos colégios os professores, muitas vezes até por falta de preparação especializada ou de condições de trabalho, limitavam-se a cumprir perfunctoriamente o que a lei impunha, repetindo exaustiva e monotonamente o repertório de sebentas cartilhas oficiais ou oficiosas. Mas surgiram também aqueles professores abnegados que, batalhando arduamente para superar todas as limitações, procuravam dar realização prática ao espírito da lei, buscando trazer a seus alunos alguma formação musical mais efetiva.

Só cheguei a assimilar e compreender isto bem mais tarde, como parte de meu processo de formação, como ser social e, particularmente, como interessado na história da educação no Brasil. Há mais de meio século atrás, quando cursei Canto Orfeônico, como ginasiano (1951-54), no Instituto Porto Alegre, o querido IPA de minha juventude, eu naturalmente desconhecia estes pormenores históricos. Mas não foi preciso muito tempo para me conscientizar de que, como aluno de Leo Schneider, eu participava de uma minoria privilegiada, que tinha oportunidades que contemporâneos meus, que estudavam em outros educandários, não tinham.

Toda quarta feira subíamos, meus colegas e eu, as estreitas escadarias que levavam ao mezanino do recém inaugurado Auditório Oscar Machado para nossa aula semanal com Leo Schneider, a quem chamávamos simplesmente de Maestro. O mezanino possuía uma série de degraus largos, em arco, precedidos de uma plataforma horizontal. Sobre os degraus estavam fixadas as poltronas em que sentávamos. Na plataforma anterior ficava um piano vertical junto ao qual o Maestro sentava. Quando o auditório era usado para outras finalidades, o piano constituía um entrave à visibilidade do palco, para aqueles que ficavam logo atrás. Mas para as aulas do Maestro, sua disposição era ideal, permitindo que ele ficasse próximo aos alunos, facilitando a comunicação. Além disso, a ocupação apenas esporádica do mezanino permitia que o piano ali fosse deixado, de uma semana para outra, sem maiores transtornos.

E ali ensaiávamos seus oratórios (dois deles, “São João Batista” e “Jesus Nazareno”, durante aquele quatriênio). As preleções do Maestro se faziam quase como uma conversa informal, discorrendo sobre a estrutura de um oratório, situando seu conteúdo no contexto da Bíblia, e introduzindo os vários temas corais. Quando dominávamos o oratório do ano em sua totalidade, fazíamos dois ou três ensaios em conjunto com as meninas do Colégio Americano, no auditório deste educandário. Ao fim do ano, o coroamento de toda a labuta: uma apresentação pública no velho Theatro São Pedro, precedida de um ensaio no local, com orquestra. Era o momento em que, pela primeira vez, ouvíamos completa a obra para a qual tanto nos havíamos preparado. Era, também, de certa forma, um momento de glória para todos nós: cantar no São Pedro... Não era para qualquer um!

No ano seguinte, começávamos com outro oratório, mas sem abandonar o esforço do ano anterior. De quando em vez surgia uma excursão para apresentações em cidades do interior do Estado, de forma que era sempre oportuno manter a desenvoltura na interpretação daquele oratório que já conhecíamos. Foi assim que visitamos Uruguaiana, viajando nos vagões da velha Viação Férrea, puxados pela não tão saudosa Maria Fumaça. E em lá chegando, nos divertimos com um jornal local, que anunciava nossa apresentação falando em “duzentos solistas”...

Outras preocupações nos assoberbavam quando se aproximava o final do ano. Tínhamos de prestar um exame final. O Maestro preparava e nos distribuía uma folha mimeografada, apresentando, em suas duas faces, um texto datilografado com o menor espaçamento possível, abordando vinte pontos, de sua livre escolha, cobrindo tópicos específicos e bastante variados da história da Música. Um deles falava em troubadours medievais, outro em Bach (não poderia faltar, evidentemente), algum outro em Verdi ou Wagner... Não faltavam os tópicos de música brasileira: José Maurício, Carlos Gomes, Catulo da Paixão Cearense... Então, durante duas ou três aulas, o Maestro discorria sobre cada um dos tópicos, indo um pouco além do parco texto da folha mimeografada, estabelecendo comparações e noções sobre o desenvolvimento da história da Música.

E assim nos preparávamos para o exame, em que nos era cobrado, a rigor, apenas o conhecimento do material contido no texto mimeografado. Para os que apenas queriam passar, era uma moleza. Para outros (eu incluído), um mero ponto de partida, um aperitivo para despertar a fome pelo conhecimento musical. Em dias em que tudo era muito mais difícil, levei quase duas décadas para conseguir saciar uma curiosidade então despertada, a de ouvir José Maurício e me deleitar com sua música coral. Hoje, com a internet, escuto-a quando quiser (e o faço com freqüência), indo direto ao youtube. E a cada vez que o faço, lembro-me de Leo Schneider.

Eu já trazia interesse por música e alguma cultura musical de casa, transmitidos por meu pai. Mas participar das apresentações de dois oratórios de Leo Schneider, de ouvi-lo, de com ele conviver, mesmo que na mera situação de aluno da matéria Canto Orfeônico, foram importantes para atiçar minha curiosidade, para me impelir à leitura de textos sobre música, de fazer da música erudita uma necessidade de vida. E hoje, em retrospecto, posso dizer: fui enriquecido com isso.