segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Fé Emma Piccoli

Um olhar de reconhecimento




Em 1946, fui estudar no Colégio Americano e no respectivo Conservatório de Música, quando me tornei aluna do maestro Léo. Era também componente do Canto Orfeônico do ginásio, cantando o Oratório São João Batista e de São Paulo.

Com o maestro, aprendi a ter o gosto pela música clássica e pelo canto, os quais cultivo até o hoje. Além de professor, o maestro tinha o talento de despertar a amizade e a admiração de seus alunos.

De todos os encontros de aprendizado que mantive com o mestre a amigo, de 1946 até 1953, o que mais me marcou nessa convivência foi a sua capacidade de inspirar a todos, inclusive com seu alegre sorriso, para que nos mantivéssemos fiéis e devotados estudantes da música.

As longas horas de estudo eram premiadas pelo olhar de reconhecimento pelos acordes bem-executados. As falhas, eram transformadas em um novo desafio a ser vencido.

Por tudo isso, a grande lição que ficou foi a de um homem que tinha na música sua forma de celebrar a vida.

Um saudoso abraço,

Fé Emma.
Escritora de livros infantis de culinária como Menino Maluquinho na Cozinha c/ ilustrações de Ziraldo.
-Foi a responsavel pelo Setor de Pesquisa e Arquivo de Vozes da Radio Gaúcha por 15 anos.



















Audição de piano no Colégio Americano em 1949.



























Audição de canto com a Profª. Maria Helena em 1951.




















Fé Emma Piccoli e o maestro no aniversário de 15 anos de Fé, 01-08-1950, na Protásio Alves nº 674.

Flávio Oliveira





Compositor, premiado com 2 Prêmios Açorianos, professor do Colégio João XXIII e Instituto de Artes da UFRGS por muito tempo, diretor da Discoteca Pública Natho Henn, produtor de muitos CD´s, idelalizador do Encompor, diretor de programação por 25 anos da Rádio da UFRGS, formado em Letras e Cultura Grega pela UFRGS








O Maestro Léo Schneider que conheci

Flávio Oliveira

A valorização e o respeito ao ser humano, na fase de sua formação, quando criança, pré-adolescente, adolescente e jovem a caminho da adultez, não eram a prática das escolas que freqüentei durante a idade escolar. Por discurso de princípios declarados e “no papel”, como se diz, as escolas apontavam estes valores. Mas na realidade do quotidiano, na prática do dia a dia, somente poucos professores vivenciavam-nos. Alguns poucos respeitavam a gente e nos valorizavam em nosso aprendizado, nossas descobertas, nossas criações, por menores e mais modestas que fossem. Sabiam que, em o fazendo, semeavam estes valores.

O enfoque deste tema bastante polêmico em nossos dias – qual seja o da valorização e o respeito à pessoa no sistema de ensino brasileiro – a prima vista talvez pareça estranho em um texto que se destine a contar um pouco sobre meu convívio com LÉO SCHNEIDER regente, professor, pianista, organista e compositor. Apesar disso, em um primeiro momento, o que me move a registrar aspectos daquele convívio com esta figura tão importante da música rio-grandense-do-sul é justamente a memória da manifestação destes dois valores que senti, ainda que sem saber nomeá-los então, e que certamente foi o que mais me marcou no primeiro dia de aula, ele sendo o professor de música, quando eu tinha 12 anos. Foi em 1956, no Instituto Porto Alegre – o IPA, como era conhecido – instituição onde, por circunstâncias especiais, fui cursar a primeira série ginasial, com uma bolsa de estudos do Rotary Club de Porto Alegre que um tio meu conseguira.

Léo Schneider era o nosso professor de música e nosso regente coral. Se o convívio que tivemos enquanto classe e/ou grande grupo, no coro, foi inesquecível, maravilhoso, foram fundamentais para minha formação as experiências de ensino-aprendizagem e o fazer musical sob sua orientação. Fundamentais porque com ele ganhei em tenra idade um Norte possante quanto aos valores acima apontados e grande e definitivo estímulo para perseguir meus sonhos musicais e prosseguir meus estudos musicais, tanto na escola quanto fora dela.

Operou-se uma verdadeira revolução nos meus sentimentos de criança e de aluno, a partir dos muitos atributos de Léo Schneider, que se manifestavam no quotidiano: sua força, sua alegria, o olhar nos olhos quando se dirigia a um de nós, a pergunta direta, a resposta clara. Ao mesmo tempo, esta mesma figura também era uma “sumidade” de conhecimentos musicais, históricos, artísticos; ele dominava vários idiomas como o latim, o alemão, o inglês, o francês; e tocava o harmônio, o órgão e o piano com igual desenvoltura ... e cantava – afinadíssimo ! - com tanta expressão, que passava pra gente esta idéia : cantar com expressão... Ele nos contagiava e nós também queríamos cantar assim... bonito e afinado.

Pessoalmente, eu que via maestros somente em palcos, pois meus pais freqüentemente me levavam a concertos da OSPA e outros que houvesse, fosse de visitantes, de música de câmara local, etc., tinha, pela primeira vez, um maestro que estava bem perto, bem próximo, ali, regendo o coro no qual eu cantava. Na minha percepção de menino de 12 anos, que estudava música e amava a música, pela primeira vez eu via de perto e tinha como professor um maestro de verdade, um compositor, um pianista – e, mais: um artista..

Meu sentimento, de criança, era que Léo Schneider me acolhera sem me conhecer pessoalmente. Eu era um aluno, como tantos, da primeira série ginasial. Não obstante, o tratamento que ele me dava era absolutamente distinto. Mas... curiosamente, em seguida, fui percebendo que ele tratava a cada um dos colegas da mesma forma: para ele cada um era distinto. Para mim isto era novo; eu ainda não tinha instrumentos de análise para entender que o que estava ocorrendo é que ele distinguia, atendia e respeitava a individualidade de cada um de nós. Até então, na vida escolar, jamais eu sentira tamanha atenção à minha pessoa. Léo Schneider fazia isto com naturalidade; ele era assim; isto de respeitar a individualidade fazia parte dos valores que cultivava na vida dele. Pelo menos, refletindo mais tarde sobre este aspecto, entendi que a gente sentia que era natural porque a aparência e a essência se juntavam: este valor fazia parte dele – ele era assim então, é a concluir. E o leitor certamente já deve ter pensado em que o que nos fica dos professores, dos mestres, dos que nos educaram – para além dos conteúdos programáticos – são os valores que eles cultivavam, a força de personalidade que se manifestava neste cultivo e os atributos de caráter em harmonia com o todo.

Rememorando este momento de já há 53 anos, enxergo que a aguda sensibilidade para perceber pessoas guiava nosso querido maestro Léo no tratamento diferenciado dirigido a cada um de nós. Mas havia nuances: posso afirmar que, no geral, a base de respeito, de valorização era a mesma com todos nós; mas algo fazia com que ele mudasse minimamente o tratamento de um para outro aluno... isso que mudava era justamente o que fosse mais adequado para cada um dos nossos jeitos de ser – em outras palavras, nuances de caracteres e temperamento diferenciadas sugeriam-lhe nuances de tratamento diferenciado. Eis, sem mistério, o que ocorria.

Cá entre nós, caro leitor, um convívio assim é um estímulo para a vida. Assim, eu aguardava sempre com grande ansiedade os encontros de música, onde cantávamos em coro, ensaiando músicas de verdade com notáveis resultados, emocionantes... e a curto prazo: nós realmente fazíamos música sob a regência de Léo Schneider ! E aquela coisa que soava tão “grandiosa” (para mim, criança) era feita com muita simplicidade. Acredito que se deva atribuir ao profundo conhecimento do seu metier a extrema simplicidade na condução dos trabalhos. Ele tirava leite de pedra, como se diz. Valorização e respeito era a lição que levávamos. Mais tarde, como músico, enxerguei que este era um fundamento essencial para o fazer musical que, invariavelmente, implica trabalho de conjunto.

Dentro desta idéia de o maestro Léo enxergar diferenças individuais, vale contar também que, quando percebeu que eu gostava muito de música, que estudava piano fora da escola com professora particular, que eu era capaz de ler música e tinha boa afinação, convidou-me para ir fazer parte do Coral Evangélico que dirigia, cujos ensaios via de regra eram realizados no salão da Igreja Metodista da Rua Duque de Caxias, aquela que fica bem pertinho da Praça do Portão.

Quanto à minha professora particular de música, vale o parêntese que faço a seguir, tanto para nomeá-la quanto para descrever certo cenário de concertos sinfônicos. Seu nome era Zuleika de Araújo Vianna, ex-aluna do Instituto de Belas Artes, ex-aluna do professor Tasso Corrêa, pertencente à família do compositor rio-grandense-do-sul que deu nome ao Auditório que, diga-se de passagem, naquela época ficava junto da Praça da Matriz, ao lado do Solar dos Câmara. Tinha uma linda platéia, com bancos de praça, que descia em escada em direção à concha acústica. Cada degrau era ornamentado com uma fileira de ciprestes baixos. A Concha Acústica ficava perto da amurada que dava vista para o Arquivo Público. Pela altura do terreno, também se podia enxergar o Guaíba, pelo lado esquerdo do Teatro São Pedro. Na parte superior, da Rua Duque de Caxias e na parte lateral descendo pela calçada que vai até o Teatro São Pedro, a platéia era ladeada por um “pergolado” greco-romano, coberto por trepadeiras entrelaçadas, cheirosas, a saber: glicínias, canela e bem-casados. Situava-se onde hoje se encontra o prédio da Assembléia Legislativa do estado. Este cenário fez parte de nossas vidas, pois ali eram realizados concertos sinfônicos, já desde antes da fundação da OSPA e ali atuavam as orquestras existentes, como as da Rádio Farroupilha, a do Club Haydn, além de, a partir de 1950, a OSPA.

Voltando ao Coral Evangélico, cantando nele conheci composições importantes de Léo Schneider, como o Oratório São João e o Oratório Jesus Nazareno. Neste último, com sua filha Anne Schneider (ela era aluna do Colégio Americano, instituição, então, co-irmã do IPA), fizemos a parte de solo (sem coro) do menino Jesus, quando José e Maria o procuram (o texto seguia o Evangelho de Mateus); a soprano, o papel de Maria, cantava a pergunta: “Filho, porque procedeste assim conosco? Teu pai e eu te procurávamos aflitos...” com nosso canto, respondíamos: Por que me procuráveis? Não sabíeis que eu devia estar na casa de meu pai?”.

Na composição de Léo Schneider (no meu modesto entender ele era um orquestrador de mão cheia), quanto à orquestração – que me lembre – este momento era precedido por uma parte instrumental em que se escutava um lindo solo de oboé acompanhado de cordas... melodia e acompanhamento que certamente sou capaz de reproduzir ao piano, mesmo nos dias de hoje, de memória. Quanto à parte que Anne e eu cantamos, também posso reproduzí-la ainda hoje, bem como o canto de Maria que nos precedia... Ah, o solo de oboé: se não me engano quem tocava o solo era Papalardo, de grata memória.

O “Oratório Jesus Nazareno”, com texto do Evangelho de Matheus, foi apresentado no Teatro São Pedro e no Cine Goyoen de Montenegro, em récitas públicas (das quais me lembro nitidamente, embora deva ter havido outras em outros lugares), com a orquestra do Club Haydn, sob a regência de Léo Schneider. A afluência de público era bastante grande. Esta memória, como o leitor pode imaginar, é indelével.

Se no ano seguinte, 1957, me desliguei do IPA, troquei de escola indo para o Colégio Estadual Júlio de Castilhos, o “Julinho”, meu convívio musical com o maestro Léo Schneider continuou. Minha voz mudara, eu não era mais sopranino e entrei no naipe dos tenores. Completara 13 anos.

No mais, com muita freqüência, ia nos ensaios da Orquestra do Club Haydn, dirigida por Léo Schneider, na SOGIPA e alhures. Nos “Seminários Sul-Riograndenses de Música”, promovidos pela SEC-RS, através de sua Divisão de Cultura (à época da profa. Maria Moritz) surpreendeu-me sempre encontrar humildemente freqüentando as atividades o querido Maestro Léo Schneider.

Por causa da Orquestra do Club Haydn e destes Seminários de verão, conheci um grande flautista de nome Luiz Taylor Siedler, que estreou comigo uma das minhas primeiras composições para flauta e piano, em concerto público no Auditório Tasso Corrêa do Instituto de Artes. Luiz Siedler, além de tocar no naipe das madeiras da orquestra do Club Haydn, também fazia música de câmara com outros músicos e era uma espécie de “coringa” freqüentemente requisitado pela vida musical de POA.Com ele aprendi a fazer música de câmara. Indo assiduamente aos ensaios dos grupos em que ele tocava, pude ir aprendendo instrumentação e orquestração, na extensão em que ia escrevendo pequenos trios e quintetos que generosamente as madeiras do Club Haydn, nos ensaios com Siedler, tocavam para eu escutar “como soava” . E assim, eu ia balizando, ajustando, realizando a música que eu imaginava e criava. Foi um aprendizado precioso, este. Finalmente, quando comecei a compor música de cena para o teatro, realizei as gravações com os músicos que conheci através de Léo Schneider e Luiz Taylor Siedler.

Este pequeno e modesto relato de experiências entre os 12 e os 17 anos enfoca o período em que se deu mais de perto, mais intensamente meu convívio com Léo Schneider. Posteriormente, aos poucos segui meu caminho , compondo, tocando, gravando...

A força de personalidade de Léo Schneider, a excelente qualidade artística de sua composição musical, a clareza de sua regência e sua desenvoltura ao órgão e ao piano, foram forças estimuladoras de minha formação. Sua figura de maestro e compositor fortaleceram significativamente o meu fazer musical e também estimularam o desenvolvimento do meu sonho de criança quanto a poder tocar, compor e escrever o que internamente eu escutava e imaginava.

Léo Schneider pertence ao pequeno grupo de grandes artistas que realmente me estimularam e nutriram meus sonhos. Certamente ele abriu portas para que eu compreendesse os que viriam logo depois, já aos 16 anos, tais como o maestro Roberto Schnorrenberg, o músico, historiador e filósofo Yulo Brandão e o compositor, professor Armando Albuquerque. Estas quatro personagens concretamente reconheceram, valorizaram e estimularam meu trabalho. Com eles estudei e aprendi aspectos relativos à composição e à estética musicais, bem como a questões relativas à interpretação, ao fazer musical, à arte da música.

Finalizo esta minha modesta contribuição ao medium virtual (“blog”) que disponibiliza dados sobre vida e obra do Maestro Léo Schneider, com uma sugestão. A Tese de Mestrado do pianista, compositor, prof. Paulo Dorfmann – quem primeiro se ocupou com a obra do compositor – está a abrir caminhos para outros trabalhos específicos. Minha sugestão vai pelo viés das composições de Léo Schneider. Especialmente as partituras que o compositor Léo Schneider deixou estão a ensejar trabalhos na área específica de musicologia histórica. Minha sugestão é para que os especialistas desta área voltem suas atenções à obra do maestro, no sentido de dar conta da recuperação de partituras, fixação de texto, editoração e publicação, como também, posterior gravação delas. Deixo aqui registrada e manifesta, a quem interessar e queira dedicar-se a este trabalho, minha vontade e disponibilidade de colaboração/cooperação no que diga respeito a dar conta da parte de análise, quanto aos diversos aspectos relativos a procedimentos de composição do Maestro Léo, orquestração, forma, etcétera. Acredito em que trabalhos nesta área específica de Musicologia Histórica terão dupla função: disponibilizarão para execução e escuta a obra de Léo Schneider, como também trarão uma contribuição bastante importante para a repercussão crítica de sua obra. .

Flávio Oliveira. Estância Velha, 28 de agosto de 2009.

Contato: floliva@terra.com.br e/ou telefones 3561-2974 e 9209-9696 (se for ligação fora da área da Grande Porto Alegre, discar operadora e código de área 51).

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Recitais de órgão

Rio de Janeiro
15 de Agosto de 2009
18h
Recital de órgão com Anne Schneider
Caixinha de Música
































Belo Horizonte
8 de Junho de 2009
20h
Recital de órgão com Handel Cecílio

Lamento
Prelúdio


















































Em Belo Horizonte, Minas Gerais

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Alexandre Schneider Rolim
















Alexandre Schneider Rolim
é formado em Engenharia e
trabalha com computação
em Ingleses-SC.










Léo Schneider um nome forte

Minha infância foi meio estranha, era introvertido no meu mundo, analisando as coisas, abstraindo pensamentos, formando meu caráter. Em toda minha vida tive contato com pessoas importantes que contribuíram para que eu fosse como sou.
Dentre essas pessoas poderia citar várias que me influenciam até hoje, meus pais e meus dois irmão mais velhos, pessoas que eu continuo a me espelhar e consultar quando preciso.
Das pessoas que já não estão mais entre nós tenho que me lembrar sempre de meus avôs maternos, porque com os outros tive pouco contato. Minha vó, depois de minha mãe foi uma das pessoas mais maravilhosas que já tive o prazer de conhecer. De Minha vó, sempre percebi o respeito e amor eterno por esta figura marcante que era meu avô.
Apesar de morar em outra cidade muitas vezes tive oportunidade de conviver com meu avô. O maestro (como todos lhe chamavam) era um homem notável, honesto, com sendo de humor apurado, dedicado a família, a música e aos seus princípios, Tinha como missão passar sua mensagem através de suas composições, de seus oratórios. Lembro dele como um homem sério, sempre bem arrumado, de terno e gravata que adorava sair com os netos para ver os aviões no aeroporto Salgado Filho, ou ir para Novo Hamburgo comer sopa de capeletti aos domingos.
Depois de seu falecimento é que fui compreender a grandiosidade de sua obra e sua importância para a música erudita brasileira. Por isso, em sua homenagem coloquei o nome do meu filho Léo Guilherme, um nome forte.


















Na foto eu, Alexandre Schneider Rolim e meu filho Léo Guilherme Rolim.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Maria Helena Itaqui Lopes


















Maria Helena Itaqui Lopes
médica gastroenterologista e
professora da PUC



Querido Maestro Léo Schneider!

Guardo preciosas lembranças do convívio com o meu estimado professor de música.

Ingressei na Escola de Artes, já na adolescência, após ter iniciado meus estudos de piano aos 7 anos de idade. Fiz as provas de aptidão para o primeiro ano Fundamental e foi-me dito que poderia escolher um Professor, mas a recomendação do primeiro nome era do Maestro Léo Schneider e mesmo sem conhecê-lo apresentei-me como sua aluna. Fiz o primeiro e segundo ano e por recomendação dele preparei-me para a seleção do quinto ano. Cursei esse e o último ano do Fundamental para então fazer o vestibular unificado da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, onde obtive o primeiro lugar para a Escola de Artes.

O “problema” começou aí, pois estava ambivalente na escolha da profissão e fiz no mesmo ano o vestibular de Medicina na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, onde também fui aprovada. Muito contrariado ficou, a princípio, o Maestro, achando que eu não iria dar conta dos estudos a contento, com dois cursos de peso pela frente. Acabei fazendo os dois e naturalmente precisei de muita ajuda, especialmente na flexibilização dos horários das aulas. O Maestro foi o primeiro a se dispor nessa ajuda, como era da sua personalidade, sempre disposto e solidário!


Tínhamos aula de piano ou às 6h45min até às 7h45min, ou do meio-dia às 13h45min, mesmo que para isso significasse almoçar mais cedo em sua casa. Dona Mariazinha, sua querida esposa, compreendendo a minha dificuldade me enviava deliciosos e variados bolinhos que eu saboreava, enquanto o Maestro tocava alguma coisa que eu escolhia: um estudo Transcendental de Liszt ou um estudo de Chopin, entre tantas solicitações. E tudo de cor!

Essa é apenas uma das tantas boas lembranças que tenho do Maestro que tanto me auxiliou e representou na minha formação dos valores que hoje possuo.

Maria Helena Itaqui Lopes
médica gastroenterologista e professora da PUC