domingo, 12 de julho de 2009

Atelaine Meyer Normann Ew

O Maestro

Desde que eu era bem pequena, minha família já freqüentava a Igreja Anglicana, a Catedral da Santíssima Trindade, hoje prédio tombado, na Rua da Praia. Uma das coisas que mais me impressionava nos cultos dominicais matutinos era o Coro da Igreja. No início do culto os coralistas, vindo de uma salinha, à direita do altar, avançavam em processional, imponentes, já cantando um hino ao som do órgão e do carrilhão. A música inundava aquela igreja. Minha mãe e minhas tias cantavam naquele coro. Eu precisei chegar aos doze anos de idade para, finalmente, poder fazer parte dele. E foi assim que pude aproximar-me daquela magnífica figura, até agora “escondida” lá no alto, onde ficavam o coral, o órgão e... o Maestro Leo Schneider. Foi uma época de muito encantamento. Sentia-me deslumbrada, ensaiando os hinos do Hinário da Igreja. Um dia, na hora do ensaio do coro, o Maestro entregou-nos partituras novas, comunicando que faríamos parte de um grande coral. E foi assim que participamos da apresentação do Magnificat, oratório de Bach. Todos, cantando em latim, acompanhados por uma grande orquestra. Na regência, o Maestro. Uma das características do Maestro era a sua calma e o olhar de confiança que depositava em seus cantores. E nós nos sentíamos seguros sob a sua condução.

Mais tarde, então como aluna do ginasial no Colégio Americano, tive a alegria de continuar cantando sob a batuta do Maestro, que era nosso professor de Música. A salinha dele, no corredor, era ponto de encontro das meninas que para lá corriam tão logo batesse para o recreio. Todas nós saíamos dali felizes com o seu autógrafo nas costas das mãos. Ele jamais demonstrou impaciência, ou mesmo aborrecer-se com aquela cotidiana “invasão” de alegria e tagarelice. No Americano, ensaiávamos os oratórios: Jesus Nazareno, Paulo de Tarso e João Batista. Todos eles de autoria do nosso Maestro. Impressionante como decorávamos letra e música! Até hoje, passadas muitas décadas, lembro-me de todas elas. Durante os ensaios, se a turma começasse a falar um pouco além do conveniente, o Maestro parava de tocar e ficava olhando para o teclado. Bastava isso. O silêncio era imediato. Ninguém agüentava ver o Maestro ficar triste. Muitos anos mais tarde, fazendo parte do coral da Igreja Metodista Wesley, com alegria e emoção voltamos a ensaiar o oratório Jesus Nazareno, apresentado sob a regência do Maestro Leo Schneider. Este oratório foi gravado em fitas cassete. Era um avanço tecnológico para a época.
Falar sobre o Maestro é fácil. O difícil é parar de contar histórias sobre esse cristão exemplar e músico admirável, tão amado por todos aqueles que o conheceram e jamais o esquecem.
Atelaine Meyer Normann Ew

Nenhum comentário:

Postar um comentário